"..Por que uma hora Todo Mundo Cresce.."

Pages

quinta-feira, 2 de julho de 2009


Parece ficção...

Rosa amada,

Tomo a liberdade de publicar aqui um post do entrelinhas...

Meio atordoada pelo súbito da ordem, ela ergue os braços ao nível da cabeça. Olhos estatelados, fixos no metal negro. O rosto de moleque, incompatível com o vazio dos olhos e o ácido da voz, repetia "Pro chão, pro chão! Pega o dinheiro! Isso é um assalto!". Era um menino bonito até, não mais que 15 anos de idade. Segurando aquela arma fria, sem vida, ceifadora de vidas, parecia uma caricatura de Rambo, de Bradoc, ou um Dadinho qualquer da Cidade de Deus. Mas a pele branca, os cabelos lisos não conseguiam enganar a quem olhasse suas mãos armadas.
Em direção ao chão seus joelhos dobram e ela se "esconde" rente à parede. Olhos fechados. Ouvidos atentos.
Uma voz a gritar "Polícia!" rasga o denso silêncio entre os computadores.
A Lan House torna-se câmara de eco para os estampidos.
Olhos ainda fechados, ela perde a conta.
Dois baques surdos no chão. O garoto e o comparsa ficam no piso gelado. Em breve estarão com a mesma temperatura. Terão a cor arroxeada e uma aura vermelha a contornar seus corpos.
Os pobres e assustados usuários lentamente se desentocam. Um deles sangrava na cabeça. Tiro de raspão. Irá sobreviver. Uma menina treme daqui; outra chora acolá. Um rapaz espana a poeira que grudara a suas roupas. Três moças saem do minúsculo banheiro.
Saindo de baixo da bancada do computador, ela percebe que a 2 palmos de seus pés estão os cadáveres dos marginais. Um deles ainda tem espasmos - é a morte entrando e a vida se despedindo. Uma náusea que jamais sairá daquele corpo.
Bombeiros, polícia civil, polícia militar, curiosos, fita de isolamento. Chá de cadeira na delegacia. Horas intermináveis a escoerem juntamente com as gotas da chuva na janela. E tudo em que ela consegue pensar é na garotinha de 3 anos e olhos brilhantes que a aguarda em casa.
...........
Parece ficcção, neh? Pena que tenha sido real. E que "ela" seja eu.

Ainda atordoada pelo susto e pelo barulho dos tiros, fico pensando que morei mais de 20 anos em Sampa - a capital e nunca passei por algo semelhante lá. Hoje em dia moro na segunda maior cidade do MS. Mas, foi na cidadezinha da minha mãe (que não chega aos 20 mil habitantes) que isso me aconteceu... confuso, neh?

Mas... como diz a música... I will survive.

Beijos orvalhados a tod@s.
6 Comentários

Quem sou eu ?

Minha foto
Sou assim Mulher, que contas seus contos ..que conta minutos..ansiosa por natureza,teimosa, irônica ..mais as vezes dócil, terna ...LIVRE!